As hemácias possuem antígenos de superfície em suas membranas que definem o grupo sanguíneo de um indivíduo. Existem mais de 200 antígenos eritrocitários de importância clínica, divididos em sistemas de grupos sanguíneos de acordo com complexos de genes. Herdados geneticamente, os antígenos mais importantes são os do grupo ABO e o Rh.

A tipagem sanguínea é realizada para determinar o grupo sanguíneo de uma pessoa por meio de uma reação de aglutinação direta. Assim, é solicitada em casos de transfusão, doação de sangue ou órgãos, cirurgias, gestação e sempre quando a compatibilidade do sangue é necessária e envolva riscos mais graves.

Sistema ABO

O sistema ABO foi descoberto no início do século XX pelo cientista austríaco Karl Landsteiner, ao observar aglutinações após a mistura de diferentes amostras de sangue. A tipagem para o grupo ABO identifica a presença ou ausência dos antígenos A e B, e determina um dos quatro tipos de sangue: A, B, AB ou O.

  • Se as hemácias têm o antígeno A, você tem sangue do tipo A. Seu plasma sanguíneo possui anticorpos que atacam o sangue do tipo B.
  • Se as hemácias têm o antígeno B, você tem sangue do tipo B. Seu plasma sanguíneo possui anticorpos que atacam o sangue do tipo A.
  • Se as hemácias não têm o antígeno A e nem o antígeno B, você tem sangue do tipo O. Seu plasma sanguíneo possui anticorpos que atacam o sangue do tipo A e B.
  • Se as hemácias têm o antígeno A e o antígeno B, você tem sangue do tipo AB. Seu plasma sanguíneo não possui anticorpos que atacam o sangue do tipo A nem o tipo B.

Também podemos determinar a probabilidade do tipo sanguíneo de uma criança, considerando os alelos, genótipos e fenótipos apresentados por seus pais.

Resumidamente, a probabilidade do tipo sanguíneo de um lho será o resultado da combinação dos genótipos dos pais:

O com O: O
O com A: O ou A
A com A: O ou A
O com B: O ou B
B com B: O ou B
A com B: O, A, B ou AB
O com AB: A ou B
A com AB: A, B ou AB
B com AB: A, B ou AB
AB com AB: A, B ou AB

Sistema Rh

O fator Rh foi descoberto em 1937 pelos cientistas Landsteiner e Wiener, após observarem aglutinações em soro de coelhos imunizados por hemácias de macacos do gênero Rhesus. A tipagem para o fator Rh determina sua presença ou ausência no sangue. Se o sangue possui o antígeno Rh, é Rh-positivo. Se não possui o antígeno Rh, é Rh-negativo. Por exemplo, se uma pessoa possui os antígenos A e Rh, o tipo sanguíneo é A-positivo (A+). Se o sangue tem o antígeno B, mas não tem o antígeno Rh, o tipo sanguíneo é B-negativo (B-).

A tipagem para o fator Rh é especialmente importante em mulheres grávidas. Quando uma mulher com sangue Rh-negativo está grávida de um feto com sangue Rh-positivo, ocorre a incompatibilidade de Rh. Se as hemácias de um feto Rh-positivo ultrapassam a barreira hemato-placentária e entram em contato com o sangue Rh-negativo da mãe durante a gravidez, o sistema imunológico da mãe produz anticorpos anti-Rh que futuramente podem provocar a lise das hemácias fetais.

Esta resposta de anticorpos é chamada de sensibilização e, por ser lenta, geralmente não afeta a saúde do bebê da primeira gravidez. Se houver uma segunda gravidez ou sensibilização prévia por transfusão sanguínea, o risco do feto com sangue Rh-positivo é maior. A criança pode desenvolver complicações leves ou graves, como a Doença Hemolítica do Recém-Nascido ou Eritroblastose Fetal. Em alguns casos, essa condição pode ser fatal se não tratada.

A detecção é feita por pesquisa de anticorpos anti-Rh na mãe pelo teste de Coombs indireto. Se for necessário, a mulher deve tomar uma dose de gamaglobulina anti-Rh, que destruirá as células Rh positivas remanescentes do feto no seu organismo e evitará a produção de novos anticorpos anti-Rh.

Na criança, se não for possível o tratamento preventivo, deve-se fazer uma transfusão com o objetivo de substituir o sangue Rh-positivo por Rh-negativo. As hemácias, que circulam por aproximadamente três meses, são naturalmente substituídas por novas produzidas pelo feto, até que não haja mais anticorpos anti-Rh da mãe na sua circulação.

Tipagem sanguínea

Para realizar a tipagem sanguínea, deve-se coletar uma gota de sangue para cada anticorpo utilizado e depositá-las sobre uma lâmina. São testados o anticorpo monoclonal anti-A, o anticorpo. monoclonal anti-B e o anticorpo monoclonal anti-D (anti-Rh). Após homogeneização das amostras com os anticorpos, verifica-se a presença ou não de aglutinação e o resultado é interpretado.

Com base nas informações sobre antígenos e anticorpos sanguíneos, podemos dizer que:

  • Uma pessoa A- pode receber sangue A-, O-;
  • Uma pessoa A+ pode receber sangue A-, A+, O-, O+;
  • Uma pessoa B- pode receber sangue B-, O-;
  • Uma pessoa B+ pode receber sangue B-, B+, O-, O+;
  • Uma pessoa AB- pode receber sangue A-, B-, AB-, O-;
  • Uma pessoa AB+ pode receber sangue AB-, AB+, A-, A+, B-, B+, O-, O+;
  • Uma pessoa O- pode receber sangue O-;
  • Uma pessoa O+ pode receber sangue O-, O+.

Hoje em dia, as reações transfusionais graves são muito raras por causa das tipagens sanguíneas. Antígenos menores (exceto A, B e Rh) presentes nas hemácias não são pesquisados na rotina laboratorial, mas podem ser detectados pelo teste de Coombs indireto por serem clinicamente significantes. Existem vários outros sistemas sanguíneos, como o MNS, Lewis, Duy, Kell, entre outros. No caso do sistema MNS, por exemplo, a produção de anticorpos anti-M ou anti-N só ocorre após sensibilização prévia.

Publicado originalmente no blog: biomedicinabrasil.com